quarta-feira, 16 de maio de 2012

Retrocesso.!

Amanhã é um novo dia.
Bem novo.
As folhas do outono caíram todas,
Mas amanhã
ainda é
um novo dia.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

O avesso dos dias...

‎Os anos passando.
E eu,
como qualquer mulher,
obcecada,
a repetir um nome.
Imitação de um saravá nojento.


(Marieli A. Becker).

* Piao de acordo com a Wikipédia:  é o nome dado em português aos vários tipos de brinquedo que consistem, na brincadeira clássica e antiga, em puxar uma corda enrolada a um objecto afunilado, geralmente de madeiraou plástico e com uma ponta de ferro, colocando-o em rotação no solo, mantendo-se erguido. 
 (Ironia - ele se mantém erguido somente enquanto roda). 

Mesmo calada a boca...

Jornadas cansam. Tudo aqui em baixo é jornada. Talvez fossemos feitos para as coisas menores. De alguma forma, nos enredamos em assuntos que não eram nossos. Fizemos crescer sentimentos que não eram os nossos. Fortalecemos instintos que não eram os nossos. Agimos como outros. Não somos falsos, mas sonolentos, dopados e descrentes de nos vermos verdadeiros. Sentimos falta principalmente da gente mesmo. Como se fossemos inalcançáveis, como se tivéssemos nascido um minuto após nosso parto. Minuto atrasado que se arrasta para a eternidade. Lutamos contra esse pequeno minuto como onças, leopardos, cegos para a própria condição do tempo. Não há possibilidades para nós. Seremos os mesmos outros, até o fim dos tempos.

Não te enganam meus pés limpos, soltos e livres. Estão enterrados nesse mundo. Pequeno espírito murcho dentro d’água, de ti resta apenas uma fina camada de limo, acinzentada, apodrecida. Pequeno espírito que saudade da sua saúde. Eu, de ver esse teu olho saltado sem vida, sempre num ponto de fuga, adivinho há quanto tempo não respira. Que saudade do teu perfume, da tua leveza, de algo que é encanto e graça. Mas nesse teu mundo restaram apenas os velhos, e os velhos sorriem sem saber, como que por costume, por ajeitar a massa do rosto, por pensarem que não carregam mais essa lama que está em ti agora. Ninguém sorri de verdade. Mesmo quando um olhar brilha, é um brilho medonho, como se fosse iluminar demais o glóbulo, e circundar o olho de lágrima. Não tema os teus sem vida. São mais honestos, são mais macios. Não lave esse limo de ti. Estas a viver dele. Foi nele que encontraste um pouco de ar. Não fuja do feio, do mal, do escuro. Não tema a incompreensão, ela faz sentido. (Marieli A. Becker)

Simone de Beauvoir, Pirros e Cinéias.

"Como ela tem sorte!", dizia uma psicastênica ao olhar uma mulher que chorava: Ela chora a sério. Ela também chorava com freqüência; mas não eram verdadeiras lágrimas: uma comédia, uma paródia, eram suas lágrimas. O homem normal não pensa ser feito nem de vidro nem de madeira, ele não se toma nem por uma marionete nem por um fantasma; mas ele também não pode acreditar plenamente nem em suas lágrimas nem em seu riso: nada do que lhe acontece é totalmente verdadeiro. Por mais que eu me olhe no espelho, me conte a minha própria história, jamais me apreendo como um objeto pleno, sinto em mim este vazio que é eu mesmo, sinto que não sou. E é por isso que todo culto do eu é na verdade impossível; não posso destinar-me a mim mesmo. (Simone de Beauvoir).

À espera de um foco...

Seria preciso manter o peito em aceleração constante, para que os olhos não pesassem, e caíssem de repente. Ganhar um aspecto branco, alto, um gosto agridoce na boca dos outros. Acompanhar uma música de melodia mais confusa. Esquecer pedaços das próprias pernas pelo caminho.
Embora eu considere a imprevisibilidade fator inexistente no mundo, embora eu não espere a ausência de lógica nos acontecimentos, a vida não deveria caber nas linhas de um diário adolescente, e se ela por acaso esbarra em muros, não deveria caber no fichário de algum psicólogo bem informado.
Muitas vezes, estar presa a esses nós é uma brincadeira sádica. Não confiar faz parte de um sistema de igual fé, com uma cremosidade escura e densa que nos enche de contorno. Esperamos porém página por página, tentando encontrar o lugar onde o capítulo se enterra, onde ele crava as unhas, e encontramos centenas de subtítulos vazios. Seria preciso que o sol se escondesse por cem anos, ou que eu me enfiasse embaixo da cama, com uma garrafa de vinho, torpe, sem sentido, com o rubro a escorrer pelo rosto, enquanto tudo lá fora é uma feira de artesanato. As coisas também precisam desesperadamente da falta de lógica. Um reverso, até que se ajuste um foco vivo. (Marieli A. Becker).

* Texto antigo. Eu e meus problemas eternos. o.O

Simplesmente eu, Clarice Lispector. Por Beth Goulart.


Encontrei a peça completa! Pra matar a saudade, pra chamar boas lembranças. Assistam, vocês que gostam da Lispector. Quando fui assistir, fiquei com um pé atrás... uma atriz global (Beth Goulart) teria condições de ir fundo para representar com dignidade a escritora? Achei que sim, fiquei impressionado com ela, que dirigiu e escreveu a peça, além de interpretar. É uma bela obra. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Como essa sexta-feira me faz sentir...

Só pra avisar, só pra brigar com a mula empacada na minha cabeça, estou postando essa inutilidade. Pra que saibam que hoje é sexta-feira e eu estou sem motivos pra escrever qualquer coisa. Sou apenas uma formalidade que se prolongou. (Marieli A. Becker).