segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Como as segundas me fazem sentir...

Segunda-feira sempre é chata. Sempre. Dá uma baita sensação de que o teu tempo acabou, e também que tu não tá organizado como deve. Mesmo que tudo esteja no lugar. Mesmo que tudo esteja como sempre esteve. E então o difícil é aceitar que a nossa vida seja uma coisa em desordem, eternamente dando trabalho, eternamente em expediente, do tipo: hey, precisa começar a fazer isso, parar de fazer isso, fazer mais disso, um pouco menos daquilo, ser mais assim ou assado. Que canseira, meu Deus. Mas daí parece que isso é papo de gente velha, que já perdeu o vigor, sabe? Do tipo: agora tudo é serviço. Falando sério, o que faz com que a gente não canse muito é a motivação, o desejo. Se isso diminui, tudo vira encrenca. E uma segunda é apenas mais uma confirmação de que tu não resolveu nada do que devia.
Isso me lembrou uma noite de conversa com amigos queridos: o que me faz ficar agarrada à melancolia, ao negativo? Também foi uma amiga que me disse que pra vida correr bem, pra gente acertar a rotina, temos que nos esforçar. Acho que é quase tanto psicológico quanto físico. A gente precisa sofrer um pouco pra se tratar bem. Como a mãe sofre e cansa um pouco porque ama o filho e está sempre ali pra ele. Estou começando com as coisas pequenas, mas confesso, que não acho elas menos complicadas de manter. A organização que mais sinto falta é aquela que dedica seu tempo e seu propósito à minha própria felicidade. As responsabilidades estão mais ou menos ok. Digo mais ou menos porque as continhas às vezes atrasam um pouco, mas são sempre pagas. A comida às vezes não sai lá essas coisas, mas tá sempre na mesa. A casa às vezes tá um pouquinho suja, mas é só um pouquinho. E o trabalho, às vezes é meio empurrado com a barriga, assim, meio com preguiça, meio sem vontade, mas ele é sempre feito no fim das contas. Sabe o que não é sempre feito? Seja bem ou mal? Aquele cuidado com a gente, unicamente e especialmente pra gente, pra que sintamos que num domingo você fez algo de que gostou bastante, e que o tempo que teve pra si, você soube se dar prazer, estar confortável na sua própria pele. Nem que seja com as pequenas coisas. Um banho bem demorado, aquele sono até tua cabeça ficar leve, aquele respirar de ar puro, aquela escrita que desafoga as mágoas, aquela leitura que faz você sentir o espírito em outros lugares. Na verdade, acho que eu ando comendo as horas. Assim, quase sem ver, apenas como quem almoça porque é meio dia. (Marieli A. Becker).

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A minha juventude é água...

A minha juventude é água
que escorre em espiral
no ralo desse chuveiro.
É limpa, apenas não foi limpa o bastante.
Estes são meus sonhos,
incluindo aqueles que eu nunca conheci,
derramados, em formas trêmulas,
confusos por sua invalidez.
Das fontes que agora bebo,
todas acrescentam ao líquido
um fino metal.
Ora, pensei ser a felicidade um
momento morno,
como essa água parada na jarra.
Esquecida.
Eis que ela se movimenta,
tempestade,
e dos goles bebidos,
um envenena.

(Marieli A. Becker).

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Sobre as metas...

Queria poder colocar minhas metas de ano novo num papel. Mas minha falta de fé em cumpri-las é tão latente, que sinto uma frustração antes mesmo de pegar um papel. Na verdade, é infantil fazer metas de ano novo. Não fazer metas, mas fazer nessa data. Porque ao que me parece, são justamente aquelas metas que fracassamos o ano inteiro ao tentar alcançar que se tornam alvo no começo do ano. Eu particularmente venho lidando com esses falsos-projetos ao longo do final de 2011. Acordando aos poucos para uma realidade que não se encaixa num mundo ideal. Como se alguma realidade se encaixasse. Talvez falte esforço prático mesmo. Se o cachorro late, ele é capaz de miar, né? O que eu quero dizer é que eu penso que o ser humano é capaz de viver qualquer vida. E de mudar quase tudo o que quiser mesmo mudar. Isso a gente escuta por aí, lê por aí, percebe por aí. O fudido da história é saber que a capacidade é apenas uma condição, não uma ação. E que para que a ação aconteça, a gente precisa mais do que ser capaz. A gente precisa de um milagre divino. Alguma força muito íntima, que consiga lutar contra toda maré do mundo. Contribuições a parte, isso se dá na mais plena solidão. Minha luta nem é das mais sangrentas, mas por ser diária, é profunda. Muitas vezes eu esqueço que estou nela, bato e apanho sem sentir. Depois a gente percebe que alguma coisa ta dolorida aqui, outra ali. Mas isso, pessoal, não se trata de outro assunto além desse: rotina. Se estão achando que eu apanho, que eu trabalho num lugar horrível, que eu não tenho alguém pra amar e que me ame, que minha casa não é um lugar de paz e felicidade, vocês estão bem enganados. Eu tenho tudo. No entanto, a história do mundo mete a gente dentro de certas bolhas, e a gente enxerga de longe um mundo bem mais vasto, bem mais intenso e rico, mas que de certo modo nunca chegamos a tocar. Passamos nossos dias perdidos em ações que nunca serão o bastante pra gente. Nossas maiores obrigações não dizem respeito a nós mesmos. Somos domesticados. E em geral, ninguém pode dizer que não sabe mais ou menos o seu destino. O nosso eu em carne viva nem sempre aparece. Como se o corpo não estivesse preparado pra viver o principal, o sagrado, o essencial, o honesto. Como se fosse capaz, mas não estivesse mentalmente preparado. Essa é a coisa mais ridícula que eu percebo nesse mundo. O fato de que o ser humano não está preparado para a sinceridade, para o real.
Bom, vamos lançar uma meta pra 2012, dessas bem idiotas mesmo: manter esse blog. Porque nesse ano, eu desejo passar mais tempo comigo mesma - e isso também inclui estar entre os que amo -, e desejo o mesmo pra todos. (Marieli A. Becker).